domingo, 9 de outubro de 2011

Bullying atinge 13% dos alunos de Maceió

09/10/2011 09:53  Ana Paula Omena / Tribuna Independente

Foto: Sandro Lima

Menino foi ao IML com o pai fazer exame de corpo de delito
Histórias como a do me­nino, de 10 anos, David Mota Nogueira, que le­vou a arma de seu pai para a escola e atirou na professora de Português, Rosileide Quei­ros de Oliveira, de 38 anos, em São Paulo, ou como a do jovem Wellington Menezes de Olivei­ra, que invadiu a escola que es­tudava em Realengo, no Rio de Janeiro, e matou crianças num atentado, acendem a luz ama­rela de atenção com relação à preparação de escolas públicas e privadas para a temática da violência na sala de aula.
No Brasil, um trabalho reali­zado pela Organização das Nações Unidas para a educação (Unesco) em 2008 trouxe dados inéditos sobre a gravidade e as dimensões de um problema que segue sur­preendendo professores, gestores e comunidades. O que evidenciou que cerca de um quinto dos alunos e dos membros do corpo técnico-pe­dagógico, em média, relatou casos de agressões e espancamentos nas escolas, comportamento que pode ser classificado como bullying.
Em Maceió, o percentual de re­latos do tipo, entre os estudantes, variou entre 11% e 13%. Entre os membros do corpo técnico-peda­gógico, os percentuais variaram entre 21% e 28%. E entre os pro­fessores o índice chega a 30%.
Diferente da expectativa da maioria das pessoas, o bullying não está restrito às escolas públi­cas. Um fato recente chamou a atenção da Federação dos Estabe­lecimentos de Ensino Privado do Estado de Alagoas. O estudante M.R.C., 14 anos, de uma escola do bairro da Serraria, em Maceió, foi seriamente agredido por outro, de 17 anos.
De acordo com o pai do aluno, João Romeiro, a criança era vítima de bullying há algum tempo, mas a escola nunca teria feito nada por­que o agressor seria filho de um dos diretores do estabelecimento. “Meu filho sofria perseguição den­tro da escola e sempre foi xingado de maloqueiro”, disse o pai.
João Romeiro fez boletim de ocorrência e exame de corpo de de­lito no IML de Maceió na semana passada para constatar a lesão no olho do filho deixada por um soco que ele levou do ‘colega’. “Minha filha também acabou sendo agre­dida porque viu o irmão apanhan­do e foi defendê-lo”, relatou. O pai cobra providências da direção da escola na resolução do caso.
Meninos e meninas de 6 e 7 anos são os mais agressivos
Na Escola Municipal Eulina Alencar, localizada no bairro do Jacintinho, em Maceió, o nível de agressividade entre os alunos foi identificado na faixa etária entre 6 e 7 anos.
A diretora da unidade de en­sino, Marilúcia Soares, lamenta não ter apoio da Secretaria Mu­nicipal de Educação (Semed). Ela lembra que o apoio é soli­citado, mas a ajuda psicopeda­gógica quando chega “nem tem mais graça”. “Quando temos um problema de bullying na escola, somos orientados a encaminhar para um psicólogo do posto de saúde mais próximo. Os alunos e professores que sofrem bullying não são acompanhados. Não te­mos nenhuma assistência”, afir­mou.
As educadoras Patrícia Bar­bosa e Micheline Oliveira Mar­ques enfatizam que a prática do bullying entre os alunos de 6 e 7 anos está evidente. Uma delas conta que uma aluna já não está mais indo para as aulas por so­frer atos de violência física ou psi­cológica, intencionais e repetidos, praticados por grupos de crian­ças, sobretudo no recreio escolar. “Ela é chamada de mosquito da dengue, cabelo de Bombril, ninho de passarinho e de formiga. Ela já não tem vindo mais à escola como ultimamente. A gente conversa muito, mas por conta da situação a criança é bastante agressiva e revida na hora as ofensas. Temos muito medo do comportamento dela”, disseram.
Para a diretora Marilúcia Soa­res, a falta de estrutura e apoio familiar estão entre as causas da prática de bullying entre os alu­nos. “Não adianta a gente educar de um jeito e, quando a criança chegar a sua casa ser totalmente o inverso. Tem um aluno mesmo que apanha se pedir a mãe para preparar seu café da manhã; um absurdo! Mas é a realidade. Temos que formar as crianças, porém fazer um trabalho edu­cacional também com os pais”, avaliou.
De acordo com Marilúcia Soa­res, os alunos homossexuais tam­bém sofrem com o bullying. “Não podemos ser multifuncionais; temos que ter uma equipe de psicopedagogos capacitada para lidar com estas situações. Muitas coisas a gente não deixa ir além. Somos delegacia, escola. Somos tudo!”, lamentou.
Federação culpa os pais por fugirem da responsabilidade
A presidente da Federação dos Estabelecimentos de Ensi­no Privado do Estado de Ala­goas, Barbara Heliodora Costa e Silva, enfatiza que não é so­mente as escolas que devem se preparar para o bullying, mas também a sociedade como um todo. Para ela o bullying é re­sultado de valores que deixam de ser trabalhados.
“A escola fica mais visível porque agrega o maior núme­ro de pessoas num só lugar, e os pais têm um papel funda­mental neste tipo de educação. Quando a direção da escola chama este pai é porque preci­sa do apoio deles, mas ao con­trario disto, a maioria entende que por estar pagando, a esco­la é quem deve resolver tudo, e não é!”, frisou.
Apesar de não ter dados es­tatísticos sobre o número de bullying nas escolas particu­lares, ela disse que o índice é grande, e o problema precisa ser evitado o mais rápido pos­sível, para que não gere casos de violência como os que acon­teceram em outros estados do país.
O secretário Municipal de Educação, Thomaz Beltrão, disse estar se preparando para tratar o problema do bullying nas escolas, para que não gere reações como a do menino de 10 anos que atirou na profes­sora e depois se matou no dia 22 de setembro, em São Paulo. “Estamos trabalhando na pre­venção do bullying nas escolas tanto do aspecto racial como do homofóbico”.
O coordenador do Centro de Atenção Integrada à Criança e ao Adolescente da Semed, Cris­tovão Alves da Silva, anunciou que técnicos, pedagogos e psi­cólogos estão mobilizados para tentar inibir o problema. “Nos­sa intenção é mostrar o que é bullying e o que não é. Toda agressão entre crianças não se trata de bullying. É importan­te que os profissionais saibam diferenciar e os pais também, pois o bullying também aconte­ce em casa”, disse.
Cristovão Silva acrescenta que a orientação para as crian­ças que são vítimas do bullying é que elas não se calem. E os profissionais precisam perce­ber antes que algo mais grave aconteça.

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